011-- O dever da liberalidade - Eclesiastes Lição 11[Pr Nilson Vital]07jun2022
LIÇÃO 11
O DEVER DA LIBERALIDADE
TEXTO ÁUREO: “Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás” (Ec 11.1)
LEITURA BÍBLICA: ECLESIASTES 11.1-6
INTRODUÇÃO No capítulo que ora estudaremos, apesar de ser mais breve que os demais, encontramos uma lição muito bem inculcada sobre a liberalidade, isto é, a repartição generosa daquilo que possuímos em favor do próximo. Após esta última lição sobre como fazer bom uso das circunstâncias e oportunidades que a providência nos prepara, o pregador começa a desenvolver seu último tópico, orientando-nos sobre a preparação para o fim de nossos dias debaixo do sol, quer sejamos velhos ou jovens.
I – RECOMENDAÇÃO À LIBERALIDADE (VV. 1-6) Nestes primeiros versos, Salomão faz um apelo à liberalidade para com o próximo, usando de sentenças proverbiais e linguagem figurada para ilustrar a verdade sobre o assunto. Do mesmo modo que temos aprendido que o fruto do nosso trabalho é dom de Deus do qual é lícito desfrutarmos, agora somos exortados a repartir desse dom com outros, e fazer isto de forma generosa e abundante. Lançar o pão sobre as águas alude ao ato de semear, porque parte dos mesmos grãos que serviam de alimento ao lavrador e à sua casa deviam ser reservados para a próxima semeadura, para que assim houvesse uma nova colheita; figuradamente, o pão é o fruto do nosso trabalho, aquilo que Deus faz o homem alcançar para seu contentamento e provisão. Quando reparte com o necessitado, conforme a medida e o poder que tem alcançado para tanto, aquele que usa de liberalidade aparentemente está se privando de parte do seu “pão”, mas, como o lavrador, colherá novamente em medida ainda maior do que semeou – tanto nesta vida, na forma de misericordiosas bênçãos, como no porvir, na forma de vida eterna (cf. Gl 6.7; 2 Co 9.6-11; 1 Tm 6.17-19; Pv 19.17). Notemos, porém, que o pregador enfatiza que o ato seja feito com liberalidade (“reparte com sete, e até com oito”), pois, como já ensinado em capítulo anterior, nosso futuro debaixo do sol é incerto, e nunca sabemos se amanhã poderemos fazer o bem que hoje temos oportunidade de fazer (“porque não sabes que mal haverá sobre a terra”). Além disso, vale acrescentar que a generosidade para com o próximo é de tal natureza que aqueles que hoje socorremos amanhã serão os que poderão nos socorrer em uma eventual adversidade; e que pela generosidade alcançamos uma boa consciência para com Deus no uso das coisas desta vida (cf. Lc 6.38; 16.9; 11.41). Contra a tendência natural do homem à mesquinharia, apoiada em diversos medos e justificativas de sua própria razão, o pregador rebate argumentando sob diversas alegorias. “Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra”, dentro desse contexto, ilustra que, quando alguém possui em abundância, não deve retê-la consigo mesmo, mas distribuí-la aos que não a possuem, assim como a chuva é distribuída pelas nuvens cheias à terra. Ou, o que também está de acordo com a ilustração, um coração liberal se revela em atos, e não apenas em palavras; neste caso, a expressão proverbial deste verso também seria uma repreensão à hipocrisia daqueles que apenas louvam a generosidade, mas não se dispõem a praticá-la (cf. Tg 2.15-16; 1 Jo 3.17-18). Já a verdade ilustrada pela árvore que fica onde cair é que um ato de liberalidade nunca é em vão, nem pode ser julgado pelas circunstâncias de quem ou com quanto alguém foi socorrido (cf. Mt 25.34-40; Lc 21.1-4); ou ainda que, à semelhança da árvore que fica onde caiu, assim o homem, depois de morto, nada mais poderá fazer para mudar o seu estado – o tempo de emendar seus caminhos e ser generoso é hoje (cf. Dn 4.27; Lc 16.20-21, 24-25). Salomão ainda repreende aqueles que não repartem alegando as incertezas do que sucede debaixo do sol, criando dificuldades a partir do que não sabem nem podem prever sobre o dia de amanhã (“observar o vento”, “olhar para as nuvens”); os que olham as coisas deste modo nunca farão o bem (“nunca semearão”) e, consequentemente, terão um futuro mesquinho nesta vida, sem abundância nem contentamento (“não colherão”). Jesus já nos orientou a não nos preocuparmos com o dia de amanhã, mas a buscarmos o reino de Deus e a sua justiça – que em grande parte consiste na liberalidade para com o próximo – porque as demais coisas, o que nos é necessário, Ele proverá (cf. Mt 6.31-34; Hb 13.5-6). E, finalmente, o pregador exorta a não desanimarmos na prática deste dever, pois no tempo de Deus colheremos; lembremos que tudo deve ser feito não visando o louvor dos homens ou uma recompensa imediata, mas sim o louvor e a recompensa que vêm de Deus (cf. Gl 6.9; Mt 6.1-4).
II – A VAIDADE DAS COISAS BOAS DA VIDA (VV. 7-8) Na medida em que se aproxima da conclusão do seu discurso, Salomão nos faz refletir sobre o fim de nossos dias nesta terra, e sobre a preparação para a morte. E ele faz isto considerando que a vida, em si, é uma coisa boa: “suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol” – pois somente os vivos desfrutam do calor e da claridade do sol, de modo que luz aqui tem o sentido de vida. Porém, por mais que saibamos desfrutar desta vida e de todas as suas alegrias, não podemos nos esquecer da verdade insofismável de que tudo é vaidade, e que essas alegrias um dia também se acabarão – seja por uma mudança inesperada e indesejada das circunstâncias, como já aprendemos. Deste modo, os dias de trevas ainda serão muitos, seja porque nem todos os males desta existência são evitáveis; seja porque na sepultura, privados da oportunidade toda obra, só há trevas, e isto até que não haja mais céus e terra (cf. Jó 10.20-22).
III – A VAIDADE DA ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE (VV. 9-10) Se a reflexão de que as alegrias desta vida um dia se acabam e a própria vida, a alegria mais fundamental de todo o ser, eventualmente também se acabará, são reconhecidas pelos mais velhos, que já experimentaram dias de trevas e têm, pela própria experiência, maior senso desta verdade; aos jovens, que geralmente desfrutam do bem em quase todos os aspectos de suas vidas, pouco sendo afetados pelas inquietações que sobrevêm aos adultos, é necessário um apelo particular, que Salomão começa a desenvolver nestes últimos versos, estendendo-se pelo capítulo seguinte. Embora incite os jovens a viverem segundo os impulsos e a leviandade típica de uma mente não impressionada pelos males que há debaixo do sol, o pregador faz isso em tom irônico, pois o que ele tem em mente por “alegrar-se” não é o mesmo que a alegria e o contentamento lícitos proporcionados pelo fruto do trabalho, repartidos segundo a bondade divina para conosco; mas o mesmo que Paulo tem em mente ao exortar o jovem Timóteo: “Foge dos desejos da mocidade” (2 Tm 2.22). Mas ao mesmo tempo ele põe essa liberdade sugerida em xeque, afirmando que Deus não deixará nenhum ato de leviandade e luxúria passar impune, mas tudo trará a juízo. Assim, encerramos esta lição considerando suas últimas palavras de que, como tudo o mais, esse período da vida é passageiro, e os impulsos que tendem a prevalecer na juventude e adolescência – a “ira” e o “mal”, que resumem a presunção e a autoconfiança que, na ausência do temor a Deus, tendem a prevalecer no coração do homem – devem ser contidos, freados e disciplinados pela sabedoria de Deus, que ensina ao jovem como andar com prudência e autocontrole, não se deixando lisonjear pela luxúria (cf. Pv 1.4; 7.1-5).
CONCLUSÃO Embora trate de dois assuntos a princípio distintos, podemos considerar que a prática da liberalidade ou generosidade para com o próximo nos dá uma perspectiva quanto ao futuro que se estende além da vaidade desta vida; mais que o bem da própria vida e das coisas que Deus nos dá para desfrutarmos debaixo do sol, a caridade, como expressão do amor de Deus, é o único bem que podemos realizar hoje e esperar colher plenamente seus frutos na eternidade, se tão somente não desfalecermos, mas perseverarmos até o fim.
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