012-Questões controversas - Heresias Lição 12[Pr Afonso Chaves]12dez2023
LIÇÃO 12
QUESTÕES CONTROVERSAS
TEXTO ÁUREO:
“Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pedro 3.16)
LEITURA BÍBLICA: 2 PEDRO 3.10-18
INTRODUÇÃO
Ao longo da história do Cristianismo, além das heresias, que despertaram os fiéis a combaterem o erro e a compreenderem com maior precisão a sã doutrina, muitas questões também surgiram que, embora tenham suscitado, e ainda despertem discussões acaloradas por parte daqueles que defendem uma ou outra posição, não podem ser consideradas, de imediato, como uma disputa entre heresia e ortodoxia (“sã doutrina”), uma vez que cada uma geralmente se apoia em razões bíblicas, em nada prejudicando o todo da revelação. Mas, como nenhum sistema teológico é perfeito – somente a palavra de Deus é perfeita – é preciso que analisemos cada ponto de uma dada posição, e estejamos prontos a descartar qualquer implicação doutrinária que contrarie a verdade bíblica.
I – PREDESTINAÇÃO X LIVRE-ARBÍTRIO
Talvez uma das questões mais calorosamente discutidas entre os cristãos evangélicos seja aquela que trata do poder de escolha do ser humano pela sua salvação. Não está em debate o mérito da salvação, pois todos estão de acordo que o homem não se salva pelas obras, mas pela fé, através da graça assegurada pelo sacrifício expiatório de Cristo Jesus; nem a capacidade de o homem fazer o bem, pois todos também concordam que a corrupção do pecado se estende a todos os aspectos da natureza humana. Mas o que divide as opiniões é se o homem pode escolher livremente ser salvo (livre-arbítrio), ou se essa escolha é de algum modo determinada por Deus (predestinação). Os defensores do livre arbítrio afirmam que Deus teria dado este poder ao homem, e que o chamado do evangelho o capacitaria a aceitar a graça, embora ainda pudesse resisti-la; e que tanto a eleição como a certeza da salvação seriam condicionais, pois Deus não teria predestinado indivíduos, mas sim a vida eterna para aqueles que voluntariamente creem e perseveram até o fim. Assim, alguém que verdadeiramente creu no evangelho e nasceu de novo ainda poderia apostatar e cair completamente da fé, perdendo o seu lugar entre os eleitos. Os defensores da predestinação, por sua vez, entendem que, embora o chamado do evangelho seja dirigido a todos os homens, a graça opera apenas em alguns, capacitando-os a responder irresistivelmente à salvação. Ora, isto está de acordo com o ensino bíblico de que, embora a pregação seja o meio pelo qual Deus comunica Sua graça ao coração do homem, essa comunicação não é indiscriminada a todos os que ouvem o evangelho, mas é Deus quem abre ou mantém endurecidos os corações à operação da Sua graça (Rm 10.16-21; Mt 13.13-15; At 16.14). Esta graça, por sua vez, sempre opera eficazmente, prevalecendo sobre a pecaminosidade do coração para justificar, santificar, levar à obediência da fé, enfim, para salvar (Rm 5.16-21; Ef 2.8). Logo, a concessão da graça a uns e não a outros não pode depender da escolha do indivíduo, porque aí já não seria graça, o dom de Deus ficando condicionado à atitude humana; mas ela depende de Deus, que é livre para escolher aqueles que quiser, de acordo com a Sua soberania (Rm 9.6-16; 11.5-8). Devemos, porém, ter cuidado com uma ideia geralmente associada à defesa da predestinação, de que não importa quais sejam nossos atos; se somos eleitos para a salvação, nenhum pecado nos impediria de entrar no céu. Os que veem nessa doutrina um pretexto para pecar se esquecem de que, primeiro, a certeza da salvação vem da mesma fé que opera a obediência, sem a qual ela é morta – é o Espírito, que habita naqueles que creem e obedecem, que comunica aos nossos corações que somos filhos, destinados à vida. Em segundo lugar, como tanto a fé quanto a obediência são obra da graça de Deus, ser eleito significa não apenas estar predestinado à vida eterna nos céus, mas ser capacitado a trilhar o caminho que leva a este fim, que é o da fé, obediência, sofrimento pelo evangelho e perseverança, de modo que o pecado é um sinal, não de eleição, mas de rejeição, ao passo que a santificação e perseverança na fé é evidência da operação da graça de Deus em nossos corações (Rm 8.9-16; Ef 1.3-6, 11-14; 1 Jo 3.1-10).
II– CESSACIONISMO X CONTINUISMO DOS DONS ESPIRITUAIS
Aproximadamente desde o surgimento do movimento pentecostal, no final do século XIX, reacendeu entre os cristãos a questão sobre a atualidade e o significado exato do batismo no Espírito Santo, dos dons espirituais e de ministérios outros além do pastoral (ou presbiteral) e diaconal. Os que defendem a posição cessacionista, embora não neguem que Jesus possa curar e operar milagres em nossos dias, entendem que isto não ocorre com a frequência anunciada pelos pentecostais ou aqueles que defendem a posição de continuidade dos dons, pois esta teria sido uma característica dos tempos apostólicos, quando o evangelho, sendo uma mensagem nova no mundo, precisaria ser confirmado através de muitos sinais e maravilhas; e milagres na atualidade poderiam apenas servir de pretexto para corroborar novas supostas revelações, afastando a igreja das Escrituras Sagradas. Os defensores da continuidade dos dons, por sua vez, entendem que nenhuma Escritura pode ser apontada no sentido de que a operação de sinais e prodígios seria limitada apenas à geração dos apóstolos; mas, pelo contrário, encontramos a promessa de que todo aquele que cresse e invocasse o nome do Senhor Jesus operaria os mesmos sinais (Mc 16.17-20; Jo 14.12). E que, mesmo durante a geração dos apóstolos, os milagres foram operados por muitos outros que deram testemunho do evangelho, em autenticação à mensagem pregada, e não tanto ao mensageiro (At 6.8; Lc 10.1, 17-20; cf. Mt 7.21-23). Ademais, a manifestação dos dons visa também a edificação da igreja, que enquanto estiver neste mundo se reunirá para este fim, até que alcance a perfeição na vinda de Jesus (1 Co 12.1- 11, 28-31; 13.8-10). O que precisamos acrescentar como alerta é que não podemos ignorar que as Escrituras são a nossa regra na busca e uso dos dons, e nelas encontramos que a finalidade dos dons é a edificação da igreja, e não o envaidecimento ou engrandecimento pessoal, muito menos o estabelecimento de uma autoridade extra bíblica (1 Co 14.1, 5-6, 26, 36-37).
III – MILENARISMO PRESENTE X FUTURO
Dentre as várias questões de ordem escatológica, a que diz respeito aos mil anos descritos em Apocalipse 20.1-6 é uma das mais conhecidas e que deu origem a várias denominações. Essa discussão gira em torno não apenas da literalidade dos eventos narrados ali, mas também do tempo em que se darão, se antes ou supostamente após a vinda de Cristo. Todos aguardam a vinda do Senhor Jesus e o arrebatamento da igreja, mas alguns entendem que algo mais acontecerá neste mundo após isso, ao passo que aqueles que entendem que os mil anos antecedem a vinda de Jesus veem este evento como aquele que também trará o fim dos céus e da terra que agora existem. E, de fato, as Escrituras nos orientam a olhar para a gloriosa vinda de Cristo como um evento final para os acontecimentos na terra, e o início de uma eternidade para os santos, a ser desvendada em novos céus e nova terra (2 Pe 3.10-13; Mt 24.29-31; 1 Co 15.22-28; 2 Ts 1.6-10). O grande perigo de uma visão escatológica futurista é que diminui a importância da vinda de Cristo, induzindo os indoutos e inconstantes a relegarem uma decisão mais firme pelo evangelho a um suposto período pós-arrebatamento, em uma vã esperança de sobreviverem ao dia do Senhor (Mt 24.36-39; 25.1-13; 1 Ts 5.1-3; Ap 6.12-17).
CONCLUSÃO
Embora sejam consideradas controversas, vimos que, de fato, essas questões não são insolúveis, e geralmente têm sido alimentadas mais por um orgulho contencioso do que por uma humilde submissão à clareza e simplicidade das Escrituras.
PARA USO DO PROFESSOR
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