010- Ética Cristã e a Política - Lição 10[Pr Afonso Chaves]30nov2021
LIÇÃO 10
A ÉTICA CRISTÃ E A POLÍTICA
TEXTO ÁUREO: “O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui”. (Jo 18.36)
LEITURA BÍBLICA: JOÃO 18.33-19.11
INTRODUÇÃO Mais uma vez nos voltaremos para um tópico da ética cristã já abordado de uma forma geral em uma lição anterior, mas que merece maior reflexão a fim de estabelecermos uma aplicação prática conforme a verdade e apropriada às circunstâncias do nosso tempo. Embora represente o reino de Deus neste mundo, e o seu compromisso seja exclusivamente o evangelho de Cristo, a igreja sempre terá de se posicionar em relação às circunstanciais sociais pelas quais atravessa a cada geração, especialmente as de ordem política. Como deve ser a relação do cristão em particular, e da igreja como comunidade, com a política? Deveríamos ser politicamente engajados? A igreja se beneficiaria de algum modo de uma aproximação maior com a política? Pode a carreira política representar uma vocação válida aos olhos de Deus? Estas e outras indagações serão abordadas nos tópicos a seguir.
I – DEUS E A POLÍTICA 1) A política é assunto dos homens. Para fins de explicação, “política” se refere ao que é público, de interesse comum ou coletivo. O Estado entra na questão política mais propriamente como a instituição responsável por administrar o que pertence ao interesse comum. Mas, como a sociedade é formada por indivíduos que pensam, concordando e também discordando em muitas coisas, o debate político é uma constante, na tentativa de se estabelecer o que seria esse objeto do interesse comum. Mas, no fundo, porém, a política envolve a discussão sobre o poder do Estado – ora limitando, ora estendendo extraordinariamente seu controle sobre a sociedade; e sobre quem deveria exercer esse poder em nome do interesse comum (Mt 20.25). Eis porque pela política os homens, ao longo da história, firmaram e romperam alianças, fizeram a guerra e, eventualmente, a paz. 2) Deus intervém na política. Independente das circunstâncias políticas de ocasião, do sistema de governo vigente, das motivações e arbitragens daqueles que estão diretamente envolvidos com a política, o fato é que Deus intervém nesta como em qualquer outra esfera da vida humana, afinal Ele é o governante dos céus e da terra, e dispõe tanto daqueles que detêm o poder político de tal forma que o Seu propósito possa se realizar, seja inclinando-os na tomada de decisões, seja substituindo-os por outros conforme bem desejar (Dn 2.21; 4.32; Rm 13.1; Ed 1.1, 2; Pv 21.1). 3) A política se opõe a Deus. Por outro lado, na esfera das resoluções e ações humanas, as Escrituras testificam a frequente oposição das instituições políticas ao propósito divino – uma tendência que cresce na medida em que o senhorio de Deus vai se afirmando ao longo da história através do Seu reino se manifestando em Israel, até ser declarado abertamente na glorificação de Jesus Cristo, o Filho do Altíssimo, como o Messias, aqu’Ele que foi destinado e ungido para ser o “rei dos reis e senhor dos senhores” (Ex 1.8-14; Is 36.13-20; Dn 3.1-15; Sl 2). O que no passado se verificava como uma tendência geral ocasionada principalmente quando governantes se sentiam afrontados ante a firmeza de Israel na sua fidelidade e confiança no Senhor, finalmente tornou-se, sob a dispensação do evangelho, em um espírito predominante de oposição a Deus e ao Seu Cristo, numa tentativa diabólica de frustrar a expansão do reino dos céus neste mundo e que, no fim, se resolverá através de um confronto aberto, onde o Messias, o Cordeiro, prevalecerá, junto com os fiéis, contra os reinos deste mundo – figurados nas Escrituras como “a besta que subiu do mar” (Mt 2.1-9, 13-16; At 12.1-4; Ap 13.1-8; 17.12-14).
II – A IGREJA E A POLÍTICA 1) A tentativa de controle da igreja pelo Estado. Como uma instituição com o seu aspecto visível diante da sociedade, a igreja muitas vezes é alvo de medidas que visam subordiná-la aos interesses políticos de ocasião e instrumentalizá-la como qualquer outra organização ou instituição social. O propósito da igreja passa a ser visto como objeto de debate e discussão, como se dependesse de um interesse comum que pode ser moldado ao bel prazer dos grupos políticos, e impõe-se a ela obrigações e restrições que fazem seus membros perderem de vista a origem divina da igreja e que a sua finalidade é, portanto, inegociável (At 4.1-7, 18-20). 2) A tentativa de submissão da igreja ao Estado. Consideremos também que a História testifica que muitas vezes são as instituições presumidamente cristãs que procuram se aproximar e criar vínculos mais estreitos com o Estado e participar do poder político. E, neste caso, as consequências desse esforço são ainda mais desastrosas para a igreja, pois vêm desde dentro, e, uma vez comprometida e pactuada com as potestades deste mundo, dificilmente a instituição conseguirá se livrar desse jugo desigual. Pouco benefício para o reino de Deus resulta dessas alianças, uma vez que nossas armas para combater as trevas são espirituais, não carnais; e não há necessidade de ordem material que a comunidade não possa prover através da liberalidade e esforço dos fiéis (2 Co 10.4; Zc 4.6; At 2.44-45; 2 Co 8.1-4).
III – O CRISTÃO E A POLÍTICA 1) O risco do envolvimento político. É bom que o cristão, como cidadão temporário deste mundo, tenha interesse pelo bem estar e prosperidade da nação, pois disto, como já estudamos em lição anterior, depende a sua própria paz. Esse interesse inclui a submissão às autoridades, de que já falamos também em outra oportunidade; bem como valer-se dos direitos que o Estado e as leis lhe garantem, especialmente em vista de possível dano ou prejuízo em caso de silêncio (At 16.37-39; 28.25-28). Contudo, devido à sua natureza partidária e aos interesses que enfoca, o envolvimento político tende a ocupar o indivíduo num propósito que facilmente se torna prioritário e que pode tender a uma finalidade incompatível com o evangelho – assim como a busca por qualquer outro bem de ordem material, como o dinheiro. 2) A vocação política. É bem verdade que, no passado, Deus interviu nas circunstâncias políticas e fez cumprir Seus propósitos através de homens ou mulheres especialmente destinados a assumir uma posição de autoridade no âmbito do poder político (Gn 41.38-44; Et 4.13-14; Dn 2.48-49). Além disso, a história de Israel demonstra que, não obstante o desvio da nação muitas vezes ocasionado pelo tropeço dos próprios reis, ainda é possível que alguém na posição de governante seja temente e submeta à vontade divina suas decisões (Dt 17.18-20). Atualmente mais identificada como uma vocação do que no passado, quando a única forma de alcançar um posto político se dava por meios hereditários, arbitrários ou violentos; a política é uma vocação lícita e, como qualquer outra, deve ser subordinada pelo cristão aos interesses do seu chamado divino, visando exercer o seu ofício de forma honesta, justa e coerente com um testemunho que glorifique a Deus e a Cristo.
CONCLUSÃO Embora a sociedade tenha sempre dado a maior parte da sua atenção aos debates de ordem política, interessando-se por cada minúcia das disposições do Estado, a igreja precisa estar alerta contra esta tendência mundanizante e que pode desviá-la do propósito que somente ela pode cumprir. Lembremos que somos cidadãos do reino dos céus, um reino que durará para sempre; e que o Estado, com todas as suas estruturas e interesses, bem como tudo o que tem servido de debate público, passarão, mas Deus e aqueles que O amam permanecerão para sempre.
PARA USO DO PROFESSOR
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